A sua vida pessoal se mistura com a profissional? Você costuma levar trabalho para casa e enviar e-mails profissionais antes de dormir? Na hora de relaxar pensa no que deixou de fazer no trabalho? Se suas respostas foram afirmativas, não se sinta sozinho, 74% dos brasileiros não conseguem escapar do hábito, e prolongam a jornada de trabalho, à noite, durante as férias e finais de semana. Será que esse comportamento é saudável? Ficar sobrecarregado aumenta a produtividade?

Uma pesquisa realizada em sete países pela Pullman, empresa especializada em viagens de negócios do grupo hoteleiro Acco, revelou que os brasileiros e os chineses são campeões quando o assunto é “blurring”, expressão em inglês que define a mistura constante entre vida profissional e privada. Os chineses saem na dianteira com o percentual de 85%, contra 47% dos britânicos ou 50% dos alemães. Além disso, 92% dos chineses e 83% dos brasileiros consideram que o “blurring” facilita sua carreira profissional.

Vivemos numa época da hiperconectividade, onde estar disponível o tempo todo virou regra. As organizações reduzem o capital humano, exigem um profissional multifacetado e cobram cada vez mais produtividade. A velocidade virou palavra de ordem. Smartphones, computadores, tablets facilitam a interação com o mundo, mas de certo modo tiraram o tempo do indivíduo, tempo para o famoso, e cada vez menos praticado, ócio criativo – termo cunhado pelo cientista italiano Domenico De Mais. Tempo de se desligar e aproveitar atividades ligadas simplesmente ao prazer pessoal. Como conciliar necessidades aparentemente tão antagônicas?

O primeiro passo é pensar: Por que você leva trabalho para casa? A questão é excesso de trabalho ou incapacidade de administrar o tempo? O que ao primeiro olhar pode mostrar dedicação e comprometimento, ao segundo pode significar falta de organização, planejamento e assertividade. Quem deixa tarefas para depois e elege de forma errada as prioridades, aproveita mal o tempo e se sente mais cansado do que deveria. Outra hipótese é a acumulação de funções, que aparentemente pode parecer benéfica para a saúde financeira da empresa e para a carreira do profissional, mas de fato não é. A empresa perde produtividade e potencialidade e o funcionário qualidade profissional e de vida, que a longo prazo pode ter um ônus pesado.

Fazer do tempo aliado é o grande dilema contemporâneo, não podemos esquecer que administrar bem o tempo, significa antes de tudo pautar-se como pessoa. A pessoa e o profissional são indissociáveis, se você não estiver bem, não terá equilíbrio para revelar suas potencialidades. A carreira é importante para o crescimento pessoal, mas a vida íntima não pode ser relegada a segundo plano. Numa sociedade cada vez mais sustentada pelo consumo, o dinheiro virou um instrumento de valorização pessoal. Uma armadilha perigosa, que faz a pessoa querer sempre mais e se distanciar do que é fundamental na vida.

As necessidades pessoais são essenciais e devem ser respeitadas. Atividades culturais, o encontro com a família, a preocupação com a saúde, os laços de amizades são essenciais para o bem-estar. A harmonia entre as diferentes esferas da vida, fazem com que o trabalho tenha um significado maior, como partes diferentes que se encaixam e contribuem para o crescimento mútuo, como um jogo de descobrir. Como diz o grande poeta Mário Quintana: “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.” Então vamos viver a vida presente e aproveitar o tempo na sua multiplicidade.