Muitas pessoas, depois que se unem a outra, formando um casal, têm a sensação, de “esquecer-se”. Às vezes, esse sentimento também aparece quando o casamento se dissolveu, e a pessoa precisa reorganizar sua vida, agora sem a presença do outro.
As expressões “eu esqueci de mim, de meus projetos, necessidades, das minhas amizades …” denotam que os indivíduos, quando estão em uma relação a dois, muitas vezes deixam de ver seus amigos, familiares, não mais atentam para o autocuidado, abandonam atividades prazerosas, perdem o envolvimento com a carreira profissional, enfim, geralmente se anulam em função do outro.
É como se a vida de um só funcionasse a partir do outro, se instaurando um sentimento de ansiedade, medo e sofrimento diante de uma separação – ainda que temporária – do casal. Isso aparece tão intensamente nos relacionamentos (em ambas as pessoas ou apenas em uma) que, de alguma forma, quase obriga o sofredor a procurar constante e compulsivamente a outra pessoa para compartilhar cada momento. Mas, quando chega a separação definitiva – por ter acabado o amor ou por uma perda eterna – é que esses sentimentos de nulidade vêm à tona: “Eu não aprendi a viver sem você… e agora?”
O que acontece com essas pessoas é que o casamento é colocado no centro de sua própria vida, como se tivesse começado e terminado na outra pessoa. Essa dinâmica relacional é refletida e reforçada pela ideologia do amor romântico, entendendo que o fato de estar em um casal implica sentir essa ansiedade de separação. Algumas frases que refletem o significado dessa dinâmica relacional são: “Sem você, eu não posso viver”; “Eu preciso de você todo o tempo”; “Sem você comigo eu não vejo felicidade nas outras coisas”. E por aí vai…
Para esse ideal de amor romântico, é comum confundir o sentimento de estar apaixonado, pela angústia que pode ser sentida em vista da possibilidade de separação da outra pessoa. Está na hora de refletir sobre isso…
Para sentir amor por alguém, necessariamente não é preciso que o indivíduo se isole e deixe de realizar atividades ou tarefas que enriquecem a sua área pessoal, somente para estar com a outra pessoa, como sendo esta a única motivação que possa acalmar essa ansiedade que decorre do medo da separação.
Manter a autonomia e espaço pessoal não deve ser interpretado, de modo algum, que você não ama a outra pessoa ou que não está apaixonado por ela. Significa muito mais que você, antes de tudo, tem uma vida, é singular, e que haverá muitos momentos nos quais será necessário estar distante do outro, até para ter saudade da pessoa amada – e não dependência dela.
Quando um dos pares começa a enxergar a relação sob essa nova ótica, passam a surgir as inseguranças e desentendimentos na vida do casal, pois já não estarão mais compartilhando a ideia do que significa estar amando, sem estar necessariamente “grudado”, um no outro.
As consequências dessa dinâmica relacional baseada na ansiedade gerada pela separação são variadas:
Portanto, o ideal é encontrar o equilíbrio. Permita-se aproveitar a companhia da outra pessoa, enquanto ainda não está desfrutando suas próprias necessidades, habilidades, interesses, relacionamentos, projetos pessoais etc.
É importante e saudável nos perguntarmos com base em quais motivações emocionais organizamos nosso tempo e o lugar que “o casal” ocupa em nossa vida, não nos esquecendo de deixar sempre um espaço para exercitarmos a nossa autonomia. Assim estaremos bem com nós próprios e seguros para estarmos felizes também com a pessoa amada.